Certas
citações bíblicas, são cheias de mistérios, e algumas, quando lidas, podem
trazer certa confusão em sua interpretação.
É
o caso em que o Senhor diz: “Em verdade vos digo que não passará esta geração
sem que tudo isto aconteça” (Mt 24:34). O capítulo 24 de Mateus, destina-se a
narrativas concernentes a grande tribulação e conseqüentemente a volta do
Senhor.
Como
vemos, essas palavras, deixam a nossa mente em suspenso, imaginando, que os personagens
aqui descritos, de alguma forma, seriam expectadores do advento de Cristo.
Palavra semelhante, nós encontramos em João 21:22 “Respondeu-lhe Jesus: Se eu
quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa? Quanto a ti,
segue-me”. A afirmação do Senhor, certamente foi uma referência a sua aparição,
após sua morte e ressurreição, fato esse testemunhado por muitos irmãos. Mas
pelo relato do versículo subsequente, fica evidente, que os ouvintes não
interpretaram assim: “Então, se tornou corrente entre os irmãos o dito de que
aquele discípulo não morreria. Ora, Jesus não dissera que tal discípulo não
morreria, mas: Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa?”.
Como vemos, a ressurreição do Senhor, ainda era um fato desconhecido aos
discípulos, que até mesmo tentaram desestimulá-lo (Mt 16:23). A confusão se
estabeleceu, visto que o retorno de Jesus, se daria em tempos ainda muito
distante, mas a volta a que se referia, ocorreria após três dias de sua
crucificação.
Quanto
a palavra: “permaneça até que eu venha”, seria uma clara evidência, de que alguns
não sobreviveriam a perseguição que se levantaria contra os seguidores de Jesus
paralelamente a sua crucificação. Após a crucificação do Senhor, muitos foram
perseguidos e martirizados, razão pela qual os discípulos encontravam-se a
portas trancadas, no instante de sua manifestação (Jo 20:19).
Uma
outra citação, que pode trazer-nos igual desconforto, sem o devido esclarecimento,
encontra-se em Mateus 24:34 “Em verdade vos digo que não passará esta geração
sem que tudo isto aconteça”. Esse versículo que nos é apresentado, dentro do
contexto tribulacional, transmite-nos a idéia, de que a geração a que se
referia, estava entre os seus espectadores e ouvintes. Aplicando o equivoco de
João 21 a
Mateus 24:34, João não seria o único representante da era apostólica entre nós,
mas teríamos toda uma geração, da era apostólica, aguardando vivos, a vinda do
Senhor.
Uma
geração é considerada, de um pai para filho, cerca de vinte e cinco anos. Mas o
princípio de geração em certos casos bíblicos, rompe com a regra
preestabelecida, querendo com isso, nos introduzir numa concepção mais
abrangente, segundo a visão espiritual desse assunto.
Na
verdade, dentro da realidade espiritual, existem somente duas gerações a ser
consideradas, estando elas representadas por duas pessoas distintas: Lameque e
Enoque. Lameque, é o sétimo da descendência de Caim (Gn 4:17-18), e Enoque é o
sétimo da descendência de Adão (Jd 1:14). As duas descendências assumem a
sétima posição na árvore genealógica. Uma vez que as descendências tenham sido
associadas ao número sete, elas foram associadas ao tempo. No livro de Daniel
capítulo 9:24, encontramos uma referência deveras interessante, para a
elucidação do assunto. Na ocasião, em que o anjo Gabriel, veio instruir o profeta
Daniel, acerca do cronograma do cumprimento do plano eterno de Deus: “Setenta
semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para
fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade
para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo
dos Santos”. Todas as referências desse versículo, estão intimamente ligadas ao
estabelecimento do reino milenar.
O
cumprimento dessa profecia, começou a partir da autorização emitida pelo rei Medo-Persa,
Artaxerxes I, conhecido como Dario (Ed 1:1). A partir de então, os judeus
iniciaram a reconstrução dos muros de Jerusalém. Como profetizado em Daniel 9:25,
sete semanas (49 anos) seriam necessárias para edificar Jerusalém. Após as sete
semanas propriamente dita, mais sessenta e duas semanas seriam contabilizadas,
até a crucificação do Senhor Jesus. Quando somamos as sete semanas empregadas a
reconstrução de Jerusalém, mais as sessenta e duas semanas que culminaram com a
crucificação do nosso Senhor, chegaremos a sessenta e nove semanas, das setenta
profetizadas por Daniel 9:24. O que restou, foi apenas uma semana para totalizar
a profecia, apenas uma semana.
A
última semana de nossa era, será contada, a partir de um tratado de paz
envolvendo Israel e os vários países circunvizinhos (Dn 9:27). Uma vez que esse
tratado seja assinado, Deus acionará o cronômetro divino, para uma contagem
regressiva, de sete anos, a última semana de nossa era, após o que se
estabelecerá o reino milenar. Dentro desse contexto, percebemos, que o plano
eterno de Deus, começou com a reedificação de Jerusalém, mas terminará, por
meio da septuagésima semana, que ocorrerá em virtude de um tratado de paz
firmado entre o anticristo e o povo judeu.
Com
base nessa exposição, entendemos Mateus 18:21-22, ocasião em que o apóstolo Pedro,
pergunta a Jesus, a respeito de quantas vezes, devemos perdoar alguém que tenha
pecado contra nós. Embora Pedro tenha externado uma expressiva disposição de
perdão (sete vezes), o Senhor rompe com a possibilidade humana: “setenta vezes
sete”. Uma vez que setenta semanas de Daniel, nos levarão ao regresso do nosso
Senhor Jesus Cristo, ainda que aplicássemos 490 perdões resultantes da
multiplicação, não estaríamos em sintonia, com o seu real significado: perdoar
até que o Senhor volte.
Esse
é o princípio oculto no tema “geração” de Mateus 24:34. São duas gerações, que
nasceram em Gênesis, mas se confrontarão em Apocalipse. Esse
é o contexto de Judas 1:14 “Quanto a estes foi que também profetizou Enoque, o
sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que veio o Senhor entre suas santas
miríades”. Esse será o fim de Lameque e sua geração. Esse versículo de Judas, é
um ponto final na descendência maligna, pois o Senhor seguido de suas miríades,
exterminará uma geração de maldades: “para exercer juízo contra todos e para fazer
convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente
praticaram e acerca de todas as palavras insolentes que ímpios pecadores
proferiram contra ele” (Jd 1:15).
Essa
era a percepção de Lameque: “Sete vezes se tomará vingança de Caim, de Lameque,
porém, setenta vezes sete” (Gn 4:24). Lameque, um homem violento, sétimo
descendente de Caim, é o representante oficial de uma geração maligna a quem o
Senhor se refere. Quanto a Enoque, o sétimo descendente adâmico, representa
aqueles que andam com Deus e por fim serão arrebatados (Gn 5:24).
A
bíblia é um relato dos inúmeros confrontos, entre as duas gerações. A geração
maligna de Lameque, se opõe a geração de Enoque. O Senhor foi rejeitado pelos
descendentes de Lameque: “Mas importa que primeiro ele padeça muitas coisas e
seja rejeitado por esta geração” (Lc 17:25). Mas no fim das setenta semanas,
contas serão acertadas: “Para que desta geração se peçam contas do sangue dos
profetas, derramado desde a fundação do mundo” (Lc 11:50). Embora mais de
quatro mil anos tenham se passado desde a fundação do mundo, na ocasião em que Jesus proferira essas
palavras, o termo “geração” ainda continua no singular.
Por
inúmeras vezes, somos advertidos pelo Senhor, a respeito de nossa fragilidade e
vulnerabilidade. Ele nos adverte, a sermos prudentes como a serpente, pois
somos como ovelhas no meio de lobos (Mt 10:16). Mesmo que uma ovelha tenha a
perspicácia de uma serpente, ela ainda é uma ovelha. Se não permanecer sob os
cuidados do pastor, será destruída. Ovelhas são descendentes de Enoque, e lobos
são a descendência de Lameque.
Existe
um dito popular, que associa a natureza traiçoeira humana, a um “lobo em pele
de ovelha”. Esse dito, é a percepção, da existência de lobos camuflados entre o
rebanho (At 20:29). A palavra revela também, que essa geração exercita-se na
maldade, o que lhes confere uma habilidade superior a dos filhos da luz (Lc
16:8).
O
Senhor impressionava-se com a indiferença dos descendentes de Lameque as suas
palavras: “Mas a quem hei de comparar esta geração? É semelhante a meninos que,
sentados nas praças, gritam aos companheiros: Nós vos tocamos flauta, e não
dançastes; entoamos lamentações, e não pranteastes” (Mt 11:16-17). Quanto a
geração dos justos, será poderosa na terra, pois ama o Senhor e tem prazer na
sua palavra (Sl 11:1-2).
Que
o Senhor possa nos tornar irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis
no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como
luzeiros no mundo (Fp 2:15).
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