A Economia de Deus



            Antes de nos aprofundarmos nos princípios relacionados ao tempo, devemos nos familializar-mos com o termo “Economia de Deus”. Esse termo é soterrado nas traduções brasileiras, mas são a raiz da transliteração para o português. De acordo com nosso dicionário da língua portuguesa, economia em seu primeiro conceito, aplica-se a uma ciência voltada a produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Uma outra opção permitida, seria a aplicação eficiente de quaisquer recursos, em uma atividade produtiva. Esse conceito, pode parecer estranho aos cristãos, por não terem acesso a origem das traduções, mas a exemplo dos arqueólogos, se escavarmos as escrituras, havemos de encontrá-las. Em Efésios 1:10; 3:2; Colossenses 1:25, a palavra economia foi traduzida para “dispensação”. Em Lucas 16:2, 4, na parábola do administrador infiel, foi traduzida para “administração”. E em 1Timóteo 1:4, encontramos a mesma palavra traduzida como “serviço”. Em todos os casos, as traduções desvaneceram o seu principal e verdadeiro significado.
            Economia origina-se da palavra grega “Oikonomia”. “Oiko”, significando casa; “Nomia”, significando dispensação, administração ou gerenciamento. Oikonomia, fun­damentalmente significa o gerenciamento ou administração de uma casa. É usada com a intenção de revelar a vontade eterna de Deus, que enfatiza o homem como sua habitação, por meio do qual Deus estabelecerá o seu domínio em todo o universo. Esse plano consiste em três etapas:
1-        Regeneração: instante em que o Deus triúno, Pai, Filho e Espírito fazem do espírito do homem a sua habitação (Rm 8:11).
2-        Transformação: processo de experienciar Cristo por meio do Espírito, para que o homem possa desenvolver-se por meio de experiências reais, as quais, se tornar-se-ão conteúdo de sua fé (Hb 11:6).
3-        Glorificação: mistério em que o corpo do homem será arrebatado aos ares e transformado de sua natureza biológica corruptível, para a natureza bioespiritual, num de piscar de olhos (1Co 15:52), momentos antes do juízo de Deus sobre a terra (Lc 17:28-29, 1Ts 4:16; Ap 10:7). Com seu espírito regenerado e seu corpo glorificado, comparecerá diante do tribunal de Cristo (2Co 5:10; 2Tm 4:1), para serem galardoados com a vida de Deus em sua alma (1Pe 1:9), fato reconhecido como salvação completa, ou reprovados, ocasião em que serão entregues a disciplina, paralelamente ao reino milenar de Cristo (Mc 9:42-49, 1Co 3:13).
            Embora tenhamos uma definição abrangente da vontade eterna de Deus por meio do homem, ainda haveria de submeter-se a uma definição neo-testamentária. Essa definição enfatiza a obra de Cristo, que passou pelo processo da encarnação, viver humano, crucificação, morte e ressurreição para tornar-se o Espírito vivificante, a fim de habitar o homem tripartido, regenerá-lo, transformá-lo, glorificá-lo, para que este, por fim, se torne sua habitação eterna, para expressá-lo em todo o universo.
            A Oikonomia na sua tradução, tem por objetivo, tornar conhecido, todo o plano divino, dentro do princípio de Zacarias 12. É por meio de Zacarias 12:1, que entendemos a ordem de importâncias, que por fim, centralizam a figura humana no cumprimento da vontade eterna de Deus. O universo fora criado para a Terra e a Terra para o homem e o homem para Deus. A história nos conta, que durante milênios, renomados cientistas e astrônomos, defenderam a teoria de que a Terra ocupava o centro do universo. Mas esse conceito foi desfeito com o passar dos tempos, com o auxilio de artefatos tecnológicos, que já contaram cerca de duzentos bilhões de constelações que ainda encontram-se em expansão. Embora tenham chegado a incontestável realidade de que a Terra não se encontra no centro do universo e nem ao menos no centro da Via-láctea, um fato tornara-se irrefutável: “O homem é o centro do universo”. Com a ajuda de poderosos telescópios, os astrônomos varreram o universo em busca de algum vestígio de vida, mas haveriam de encontrá-las? Gênesis significa origem, criação, sendo esse o primeiro livro da Bíblia, que narra a origem da vida a partir do nosso pequeno planeta azul. É nas primeiras linhas desse livro que encontramos a citação de que esse homem dominaria “os céus”, a “Terra” e o “Mar” (Gn 1:26). Em uma outra passagem de igual importância o Senhor diz: “Ainda que desçam ao mais profundo abismo, a minha mão os tirará de lá; se subirem ao céu, de lá os farei descer (Am 9:2). Parece-nos que o fascínio dos homens pela remota possibilidade de vida fora da terra, tenha chegado ao ápice, ao afirmarem que o homem parece ser o guardião da gênesis da vida, existente em todo universo. Não encontramos nenhuma citação bíblica que descarte a possibilidade de alguma forma de vida no universo, mas afirma categoricamente que tudo começou aqui. Ela também, não contesta nenhuma possibilidade de criaturas dotadas de capacidade cognitiva no universo, mas afirma, que nós, humanos, somos primícias de sua criação (Tg 1:18).
            Dotados da percepção, de que o beneplácito, o bom prazer de do nosso Deus e criador, se estabelecerão por meio do homem, cabe a nós uma certa responsabilidade, que não ocorrerá por imposições ou ameaças, mas por um convite ao conhecimento dos detalhes de tal realização.
            Nesse contexto nasce a definição, daqueles que pela graça divina, empenham-se nas escrituras para adequar-se ao novo objetivo.
Essa nova geração de homens dotados de espírito regenerado, são reconhecidos principalmente pelos escritos de Paulo, como os “Oikonomós”. Paulo diz em 1Coríntios 4:1, que importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. Despenseiros em seu significado, assim como a “Economia”, não sobreviveu a nossa tradução. Despenseiro é uma palavra transliterada do grego “Oikonomós”. Uma vez que Deus tenha elaborado seu plano econômico, que fará convergir todas as coisas, tanto do céu como da terra “Nele” (Ef 1:10), não haveria de eleger muitos economistas para tão grandiosa realização? Cada um dos regenerados neo-testamentários, são potencialmente economistas ou segundo a tradução, despenseiros. Quando buscamos o significado da palavra oikonomós no grego, a encontramos em uma definição ligeiramente ampliada. A tradução de oikonomós transmite o sentido de “mordomo” ou “mordomado”, sendo essa uma classificação dada a um administrador doméstico. As responsabilidades associadas a essa função, são indispensáveis para o desenvolvimento da economia divina a que nos referimos anteriormente. Podemos afirmar, que a Oikonomia de Deus, é levada a diante, por meio dos oikonomós. Os atributos de um oikonomós, são listados em sua tradução como requisitos fundamentais e indispensáveis, a quem se confia não somente os negócios, como a própria família. Sob seus cuidados estarão não somente as receitas e despesas, como também, a divisão igualitária de todos os recursos e riquezas a cada membro da família, o corpo de Cristo, a Igreja. O oikonomós desenvolve-se, pela prática de suas habilidades no favorecimento do corpo, elevando um simples  dom, a seu mais estimado e atuante ministério. Paulo enfatiza a necessidade de sermos reconhecidos como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. No versículo subsequente, 1Coríntios 4:2, está envolto a fidelidade com promessas, visto que o termo “encontrado fiel”, remete-nos a iminente volta de Cristo, que nos reconhecerá, não como mestres de obras, mas como fidedignos retransmissores do reino. Esse foi o teor da carta enviada ao jovem Timóteo (1Tm 4:14), que em face a tantos problemas, havia desanimado.
Timóteo era um jovem oikonomós, e Paulo nutria uma expectativa com relação a ele, a quem fora transmitido os mistérios econômicos de Deus. Por isso diz: “E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” (2Tm 2:2). A palavra “fieis”, é transliterada do grego “pistós”, que se traduz como uma pessoa digna de confiança. Pistós por sua vez, vem do radical “pístis”, significando uma pessoa que tem fé.
A fé, é produzida pelo conteúdo da economia de Deus em seus ministros.
Paulo quando descia rumo a Macedônia, incumbiu a Timóteo a difícil tarefa de orientar a igreja em Éfeso, para que não se ocupassem com outros ensinamentos, que antes, promoviam discussões do que o serviço (Oikonomia) de Deus, na fé (1Tm 1:3-4). As sãs palavras destinadas a edificação da igreja, estavam sendo misturadas aos fermentos judaicos e gnósticos, que desvaneciam as verdades, transformando-as em teorias que não se estabeleciam por meio da prática e sem o poder transformador, que muda a vida das pessoas.
A Paulo, fiel ministro, fora confiado os mistérios de Deus, que ele se esmerava em transmitir e ensinar. Paulo incomodava-se quando o assunto era viver as custas dos irmãos, então dedicou-se a consertar tendas para ganhar seu próprio dinheiro e não ser pesado a ninguém (Ef 4:28). Esse trabalho conferiu-lhe a fama de apóstolo das mãos coloridas, visto que sua profissão exigia não somente habilidades na costura, como de tingidor. Em decorrência da expulsão dos judeus da cidade de Roma, por Cláudio Imperador entre os anos 49 e 50, Paulo se estabelecera em Corinto, onde acabou por se aproximar de Áquila e Priscila, posto que eram do mesmo ofício. Bastou um ano e seis meses de convivência (At 18:11), para que aperfeiçoassem Apolo, um eloquente pregador, que a vista de suas virtudes narradas em atos 18:24-25, em nada deixava a desejar. Mas foi por meio dos recém lecionados oikonomós, Áquila e Priscila, por quem Apolo haveria de ser ajustado ao caminho de Deus (At 18:26).
Em 2Pedro 1:5, é-nos apresentado uma escada ascendente, cujo topo é o amor. Nesse caminho, o amor é o objetivo, mas existem alguns degraus, etapas consideradas, que nos conduzirão ao que é perfeito. Em muitas passagens correlatas, assim como nos escritos de Pedro, enfatizam o conhecimento, como parte vital e irremissível.
Paulo como arauto das verdades ainda em mistério, buscava nas sinagogas (reuniões destinadas a adoração e estudos da palavra), uma oportunidade para a exposição das verdades. Após três meses, se deu por convencido de que um sistema estabelecido, não haveria de acolher as novas diretrizes do Espírito Santo (At 19:8). Paulo pela sabedoria de Deus, observa que embora houvesse alguns empedernidos opositores, a maioria mostravam-se receptivos aos seus ensinamentos. A partir de então, passa a ensinar na escola de Tirano, que ao contrário das sinagogas, onde se viam constrangidos pelos discursos de Paulo, agora, livre das espessas nuvens da religião, faz de Isaias 55:3, um convite que os levaria as portas do reino: “Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá ...”. Passado dois anos, o ministério de Paulo fora de tal forma frutífero, que segundo Atos 19:9-10, não restara habitantes na Ásia, que não tivesse ouvido a palavra do Senhor, tanto judeus como gregos. Assim como própria palavra nos orienta a reconhecermos uma árvore pelos seus frutos, somos convencidos a reconhecer que o evangelho do reino, alcança seu melhor resultado por meio de estudos dirigidos. O estudo em questão, seria o ensinamento sistemático e sequencial das verdades reveladas, que proporcionariam um caminho seguro, como sugere o versículo de Atos 19:9, aos membros do corpo e a congruente expectativa de Deus.

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