Bebendo o Sangue de Cristo


“Tão-somente o sangue não comerás; sobre a terra o derramarás como água. Somente empenha-te em não comeres o sangue, pois o sangue é a vida; pelo que não comerás a vida com a carne. Não o comerás; na terra o derramarás como água. Não o comerás, para que bem te suceda a ti e a teus filhos, depois de ti, quando fizeres o que é reto aos olhos do Senhor”. (Dt 12:16-25).

O que podemos concluir, é que o sangue é a vida da carne. Num tempo onde os animais eram oferecidos em sacrifícios substitutivos, o sangue alcançou um inestimável valor. Na verdade, o sangue dos animais, eram derramados a favor do homem. Cada animal listado entre os aceitos pelo critério Levítico, emprestava as suas características naturais, a representação de determinados pecados. Dentro desse contexto, o sangue de animais e de aves, tinham o valor correspondente a uma vida humana. Imaginemos, que não houvesse um animal para derramar o sangue, em substituição de seu ofertante, então, não haveria remissão para seus pecados, sendo necessário, a sua execução sumária, pois essa é a prescrição da lei com relação ao pecador (Hb 9:22). Dentre algumas considerações, podemos inferir, que a observação dessas leis, tinham como objetivo, a restrição alimentar, para que uma necessidade básica de alimentação, não viesse a concorrer com o sangue necessário a sua própria remissão. Vale a pena lembrar, que o sangue, traz sérias consequências a saúde do homem, visto que é um veículo para diversos tipos de doenças transmissíveis. Dentre os muitos distúrbios, temos a hemocromatose, doença causada, pela alta concentração de ferro no sangue. Quando analisamos os efeitos nocivos causados pela ingestão de sangue em nosso organismo, chegamos a incontestável conclusão, de que o homem diferentemente dos animais hematófagos, não podem alimentar-se de sangue. Uma vez que todas as coisas que se encontram no velho testamento estejam ligados a alegorias e representações, deveríamos analisarmos o significado dessa regra, a luz da nova aliança.  
Alguns estudiosos, na intenção de resgatar a importância da abstenção do sangue por parte dos cristãos, recorrem a passagem de Atos 15:20, ocasião, em que os lideres judeus enviam cartas de recomendações, aos gentios recém regenerados, para que a despeito das orientações neo-testamentárias de Paulo, ainda guardassem certas prescrições da lei. Mas leiamos João 6:54 “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”. Podemos imaginar, o efeito dessas palavras proferidas pelos lábios do nosso Senhor Jesus Cristo, quando chegaram aos ouvidos daqueles que velavam pelas recomendações, como uma decisão de vida ou de morte. O problema, é que alguns cristãos beneficiados pela nova aliança, querem resgatar alguns fragmentos da lei, para aplicá-los em doses religiosas, com o fim talvez de manipular os crentes a sua própria interpretação. Não seria razoável, para aqueles, que insistem em viver sob a lei, que resgatassem as ofertas por inteiro? Não somente abster-se do sangue, ou não cortar os cabelos, mas guardarem toda a lei? Como se diz: “aquele que tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos” (Tg 2:10).
Uma vez que o objetivo da proibição de Deus não esteja fundamentada na alimentação, cabe-nos uma segunda opção, que evidencia o significado do sangue, somente no período da lei. Nesse caso, podemos reconhecê-lo, como uma referência honrosa ao sangue de Jesus Cristo, que no futuro, haveria de ser derramado a nosso favor (Hb 10:1). Não é um fato desconhecido pelos cristãos do novo testamento, que todos os animais oferecidos sobre o altar de holocausto tipificavam Cristo como a nossa oferta única e eterna. Após a morte do nosso cordeiro pascal, já não existe a necessidade de sangue de bodes e ovelhas, porque Cristo tornou-se a nossa realidade (Hb 10:5-18). Não deveríamos tratar o impasse sanguíneo com igual consideração?
Uma vez esclarecido, que o sangue, pelas suas próprias características, não deve fazer parte da nossa dieta, ou seja, não pode ser ingerido; resta-nos o impasse da transfusão.

Transfusão de Sangue

Desde primeiro de julho de 1945, esse assunto tem sido amplamente discutido, não somente pelos cristãos, mas pela opinião pública. Nesta data, as polêmicas testemunhas de Jeová, declararam em uma de suas edições, intitulada: “A Santidade do Sangue”, que a transfusão de sangue humano, constitui uma violação do concerto de Jeová, ainda que a decisão, comprometa a vida de um dos seus filiados. Isso, porque, segundo a ótica dos Tazianos (religião fundada por Taze Russel), o sangue seria a origem do pecado. Essa alegação parte do pressuposto, de que o pecado acumula-se no sangue, e uma vez que receba o sangue de alguém, receberia também os seus pecados. Esse pode ser o conteúdo daquilo que eles ouviram, mas não é o conteúdo daquilo que está escrito, sendo assim, essa não é uma verdade que nós devemos praticar. Por meio de Romanos 3:23 e 5:12, ficamos cônscios, de que o pecado foi transmitido a cada um de nós, por meio de Adão. A bíblia, trata o pecado e os pecados de forma diferenciada. A palavra, em momento algum, sugere o perdão do pecado, mas dos pecados. Pecados são aqueles que nós cometemos, mas “o pecado”, é uma referência a natureza maligna, que habita em cada um de nós (Rm 7:15-25). Se houvesse alguma verdade na alegação de tais pessoas, poderíamos afirmar, sem receio, de que o próprio Senhor Jesus, fora concebido em pecado. Devemos perceber, que na concepção do Senhor Jesus, José não teve participação alguma (Hb 4:15). Jesus, foi concebido, por meio do Espírito Santo, sem a sua participação. Você sabe qual a razão? Foi para que o Senhor não tivesse pecado em si, em seu corpo. O fato de a mulher não transmitir pecado, parece ser desconhecido da maioria dos crentes. Embora a mulher tenha o pecado habitando em seu corpo assim como em Adão, ela, não tem a posição e autoridade para transmiti-lo. Bem aventurado aqueles que lêem. Quando lemos Gênesis 1:27 “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”, não devemos negligenciar, que Adão, fora criado antes de Eva. Podemos afirmar, que Eva estava em Adão, no momento em que ele fora criado. Esse princípio nós encontramos em Hebreus 7:9-10, quando Paulo afirma, que Levi ainda não existia, quando Abraão pagou dízimo a Melquisedeque. Na verdade Levi estava nos lombos de Abraão, em seu corpo. Não foi diferente com Adão e Eva. Eva estava em Adão, e eram reconhecidos por Deus, como uma única pessoa. Leiamos Gênesis 5:2 “homem e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo nome de Adão, no dia em que foram criados”. Como vemos, Adão e Eva, são uma única entidade. Para que tenhamos mais luz a esse respeito, o apóstolo Paulo nos da maiores informações em 1Coríntios 11:7 “a mulher é glória do homem, mas o homem é glória de Deus”. Em 1Coríntios 11:3, Paulo apresenta o princípio da ordenação de Deus: “Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo”. Outro aspecto importante que o Senhor transcreveu para que nós entendêssemos o seu princípio governamental, encontra-se em Gênesis capítulo três. Nessa porção da palavra, fica evidente, que a origem do pecado, na raça humana, foi Eva e não Adão; ele anuiu a transgressão de Eva, tornando-se co-responsável, pela desobediência de sua esposa. Adão, não foi a fonte do pecado, mas alguém que consentiu no erro. Percebemos, que na ocasião em que o Senhor, apura a responsabilidade entre as partes, Eva ficou com a menor das consequências, mas Adão pelo contrário, levou toda a culpa sobre si. A transgressão de Eva, trouxe consequência, para o seu corpo: “Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará” (Gn 3:16). As consequências da transgressão de Adão comprometeram toda a criação: “Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida” (Gn 3:17). A maldição se estendeu a todo o planeta Terra por meio de Adão.
O sangue que corria no corpo de Maria, era o sangue de Adão. Se tomássemos o sangue de Adão, e o injetássemos em um de seus descendentes, nada ocorreria, no que diz respeito ao pecado, pois o sangue de Adão, é comum a toda humanidade, seja qual for a nossa nacionalidade. Se o sangue fosse o veículo do pecado, certamente Jesus, teria o pecado em si.
O que podemos afirmar, é que o nosso corpo, encontra-se inutilizado pelo pecado, não restando a ele, nenhuma esperança, a não ser a morte. Dado a condição irremediável de nosso corpo, Deus diz: “sem derramamento de sangue, não há remissão” (Hb 9:22). O pecado não tem cura. Nosso corpo, foi inutilizado por ele. O pecado está relacionado a nossa personalidade, aquilo que somos, enquanto os pecados, são o resultado daquilo que praticamos. Embora o pecado habite em nós e não possa ser removido de nós, os pecados podem ser perdoados (1Jo 1:9). Paulo afirma que o pecado habita em nós (Rm ), mas os pecados, são resultantes de nossas atitudes, das transgressões que nós cometemos. Nada podemos fazer com relação ao pecado, mas podemos fazer muito com relação aos pecados (2Tm 2:21).
Imaginemos, que Adão tenha vivido muitos anos sem o pecado, e que somente aos quinhentos anos de idade, tenha gerado muitos filhos e filhas. Podemos afirmar com todas as letras, que dentro do princípio bíblico, certamente esses filhos e filhas, não teriam “o pecado”. Mas que Adão, após tantos anos resistindo a atração da árvore do bem e do mal, sucumbisse, e num momento de insanidade, comesse do fruto proibido! Quais seriam as consequência? Alguns podem imaginar, que os muitos filhos gerados por Adão antes de sua queda, permaneceriam em seu estado de pureza, sem o pecado, mas os filhos gerados após esse incidente, seriam participantes do pecado do pai, por transferência genética, por meio do sangue. Mas o princípio que nos é transmitido aqui, não é físico, mas espiritual. No instante, que Adão tocasse na árvore do bem e do mal, todos os seus descendentes, sem exceção, os anteriores e os posteriores em sua árvore genealógica, tornar-se-iam pecadores. Não pelos pecados, pois não precisamos pecar, para tornar-nos pecadores, mas pelo fato de “o pecado” ter sido transmitido a nós, por meio da origem Adão. Esse princípio, aplica-se também a obra de Cristo, que por meio de sua morte e ressurreição, nos transferiu do primeiro Adão, para o outro; o último Adão, para Ele mesmo. Fomos transplantados Nele. Estávamos em uma árvore adâmica, agora, desfrutamos dos ricos nutrientes da árvore de João 15.
O pecado, é algo comum a todos os homens, sem exceção (Rm 3:23; 5:12). Nós não somos pecadores porque pecamos, mas, pecamos porque somos pecadores.
Esse é um exemplo, das coisas, que lemos, das coisas que ouvimos, e das coisas que se devem guardar. Nem tudo o que ouvimos, estão em conformidade com as verdades. Temos que buscar o entendimento na palavra, para que não nos tornemos pessoas comprometidas, com práticas questionáveis, que resultam de doutrinas e ensinamento de homens.
Você percebe que o sangue, não tem nada haver com o pecado? O sangue é a vida do corpo, sem o qual, pereceríamos. Derramar o sangue, levaria o corpo do pecado a morte, mas Cristo, já fez isso por nós (Rm 6:8). A providência de Deus, para nos redimir, foi a morte substitutiva do cordeiro, para que não tivéssemos que pagar com o nosso próprio sangue. Deus precisa de cada um de nós, para levar a sua vontade eterna a diante. Mortos não temos utilidade nenhuma para o plano atual de Deus. Esse é o motivo pelo qual, Deus nos livrou da morte. Ele nos deu o seu sangue. Quando cremos no Senhor Jesus, fomos incluídos em sua morte (Rm 6:8). Quanto ao pecado, nada podemos fazer, pois para removê-lo de nós, somente por meio de nossa morte, ou seja, é necessário o derramamento de sangue. Mas quanto aos nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar (1Jo 1:9). Grandes campanhas são realizada, para que a população, compareçam aos hemocentros, para reposição dos bancos de sangue, que dia após dia, tem proporcionado uma segunda oportunidade de vida a aqueles, que podem ser tocados pelo Espírito de Deus. Essa é uma responsabilidade social. Quando uma pessoa sofre um acidente, e perde grandes quantidades de sangue, ele precisa ser reposto. Mas saiba, que o sangue é a vida do corpo, sem o qual ele morrerá. Em nosso corpo habita o pecado com todos os seus atributos, reconhecidos em Gálatas 5:19-21 “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam”. Embora todas essas coisas, sejam a constituição do pecado que habita em nós, devemos atentar para a conclusão desse versículo: “os que tais coisas praticam”. Todos os atributos malignos, podem ser vinculados a “o pecado”, residente em nós, mas “os pecados”, aparecem no final: “os que tais coisas praticam”. Por fim, parece que essas alegações, comparam-se as superstições populares, que em desacordo com a medicina moderna, esmeram-se em ensinar, que a prática de chupar limão, pode purificar o sangue de alguém. Uma vez que essas crendices sejam desmistificadas, devem ser abandonadas.
Vale a pena, levantarmos outra questão, com relação a árvore do bem e do mal, para que o fantasma do sangue, não venha incomodar, a vida dos crentes, após a morte de Cristo.
Muitos pensam que o ponto central da queda do homem em Gênesis, tenha sido o pecado. Leia atentamente o relato de Gênesis (3:5), e verá, que existe duas situações distintas a serem consideradas nessa narrativa. Uma questão, é o pecado. Outra questão, é a natureza maligna. Quando Eva, deu o primeiro passo em direção a árvore proibida, ela o fez, por ter sido influenciada pela natureza maligna. A razão de Eva, ter se dirigido a árvore proibida, foi porque Satanás, a induziu ao erro. A queda de Satanás, ocorreu pela pretensão, de tornar-se igual a Deus, o seu criador. Como lemos em Gênesis 3:5 “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal”. Você reconhece a motivação implícita em seu falar: “como Deus?”. Foi essa a motivação, que levou Eva em direção a árvore do bem e do mal: “ser igual a Deus”. Tiago 1:14-15, diz, que primeiramente temos a cobiça e daí então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte. A cobiça, nasceu no coração de Eva, e então ela moveu-se em direção a árvore para cumprí-lo. Por meio dessa observação, podemos discernir claramente, a diferença entre o pecado e os pecados. O pecado nos motiva a cometermos pecados. Existe outros exemplos na palavra, em que o princípio se aplica. Judas, contemplava a possibilidade de trair Jesus, por trinta moedas de prata. Na noite de Páscoa, quando juntamente com os apóstolos, ceavam com o Senhor, Satanás entrou em seu coração (Lc 22:3). Esse é o momento em que Satanás sugere algo em nossa mente. A partir desse instante, se houver uma intenção ou uma indisposição, haverá um movimento em direção aos pecados: “Ele, tendo recebido o bocado, saiu logo. E era noite” (Jo 13:30).
O Senhor disse certa vez, que se olharmos com intenção impura para uma mulher, nós já adulteramos com ela (Mt 5:28). A mulher foi criada para o homem. A palavra diz, que a mulher é a glória do homem. Seria algo anormal, olharmos para uma mulher, e não admirarmos a sua forma, a sua beleza, pois Deus à fez para o homem. É como observarmos uma árvore florida. Não existe pecado na contemplação, pois todas as coisas foram criadas para o homem. Também não existe pecado, quando observamos a beleza da mulher. Você vê o princípio de Gênesis aqui? Se o que move você em direção à uma mulher, são intenções questionáveis, você não terá de concluí-las, para se tornar repreensível diante de Deus. Assim diz o dito popular: “Não podemos evitar, que um pássaro pouse em nossa cabeça, mas podemos evitar, que ele faça um ninho sobre ela”. Da mesma forma, não podemos evitar que os pensamentos passem pela nossa mente, mas se deixarmos esses pensamentos entrar em nosso coração, ele nos conduzirá ao erro.
Se o pecado é uma herança hereditária, ela é comum a todos os descendentes adâmicos, e não precisamos pecar para nos tornarmos um pecador. Por outro lado, os pecados são produzidos através de nossas atitudes. O que concluímos, é que na ocasião de uma transfusão sanguínea, não receberíamos nada além daquilo que já se encontra dentro de nós. Quanto aos pecados: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo 1:9). Mediante as revelações bíblicas, podemos afirmar, que o pecado tem seus dias contados em cada um de nós. Ele nos deixará por meio da morte ou na ocasião da volta do Senhor para aqueles que estiverem vivos (1Co 15:52). Quanto aos pecados, basta-nos confessá-los, e os temerosos receptores sanguíneos, não terão somente mais tempo, como também, mais um motivo para louvar o Senhor.

Ouvidos do Espírito


Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo. (Ap 1:3).

Não podemos negligenciar a ordem implícita nesse versículo: ler, ouvir e guardar. Como cristãos, devemos nos importar com aquilo que nos é transmitido. Pode parecer-nos estranho, que após lemos cuidadosamente o conteúdo da palavra, tenhamos ainda de ouvir alguma coisa.
Primeiramente é crucial, percebermos, que a base do falar do Espírito a nós, se dá, por meio da palavra que fora armazenada em nossa mente.
Em João, quando o Senhor se dirige ao experiente Nicodemos, enfatiza, a necessidade dele nascer de novo, pois somente aos regenerados, seria dado o sentido auditivo espiritual, por meio do qual, pode se ouvir a voz do Espírito. Como o Senhor disse a Nicodemos, o falar do Espírito para um regenerado, é como o vento. Embora não saibamos a sua origem e nem para onde vai, ouvimos a sua voz (Jo 3:8). Em Apocalipse, aqueles que são dotados dessa percepção auditiva, são chamados de “bem aventurados” (Ap 1:3). Em outras muitas ocasiões, esses ouvidores privilegiados, são o público alvo das revelações: “Quem tem ouvidos, ouça...” (Ap 2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13, 22; 13:9). A mensagem do Espírito Santo em Apocalipse destina-se exclusivamente, a aqueles, “que tem ouvidos”.
Por meio de Romanos 8:11, ficamos claros, de que somente uma pessoa regenerada, cujo espírito seja habitado pelo Espírito de Deus, ressuscitará. Uma pessoa, que não tenha o espírito regenerado, não ouvirá a voz do arcanjo (1Ts 4:16). A ressurreição, é para quem tem ouvidos (Rm 8:9). Se alguém morreu sem ter recebido o Espírito de Deus, não terá sido dotado do sentido auditivo espiritual, e conseqüentemente, não ouvirá o chamado do Senhor (Ap 20:4). Em João, também encontramos uma referência aos bem aventurados ouvidores: “Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão” (Jo 5:25, 28). Não deixemos de enfatizar o termo: “e os que a ouvirem viverão”.
Existe uma passagem bíblica, que pode passar desapercebida, se não aplicarmos o princípio observado nas referências mencionadas anteriormente. Essa passagem encontra-se em Romanos 10:17: “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir vem pela palavra de Cristo (RC)”. A dualidade da palavra aplica-se, tanto ao princípio da audição objetiva, como na percepção auditiva espiritual, a audição subjetiva. Tratando-se da audição objetiva, nos referenciamos, a palavra ouvida, o discurso. Primeiramente ouvimos a palavra de Cristo e a partir daí, somos dotados da capacidade auditiva espiritual. É um fato indiscutível, de que ao ouvirmos a palavra em forma de discurso, nós somos consolados, lavados, animados, e que algo relacionado à fé, é produzido em nós.
Alguns irmãos têm, por hábito, transcrever ou fazer anotações, enquanto ouvem uma mensagem. Essa é uma prática louvável, pois geralmente, não conseguimos absorver um discurso em sua totalidade, lembrando-nos particularmente da parte final, ou mesmo de um ponto específico, que tenha nos impressionado. Esse é o resultado do ouvir objetivo.
Não obstante, ressaltamos o aspecto subjetivo, interior do ouvir, objetivo desse texto. O ouvir, que resulta de nossa regeneração, como uma consequência do habitar do Espírito em nosso espírito. Por isso se diz: “O ouvir veio por termos recebido o falar de Cristo”. Dentro de nossa vivência, associamos a primeira experiência do ouvir, ao evangelho (Ef 1:13), palavra por meio da qual, viemos a crer, pois “a fé vem pelo ouvir”. Posteriormente, passamos a ouvir, o falar subjetivo do Espírito de Deus em nós. Lembramos ainda, que o falar subjetivo, baseia-se, na palavra, tanto em seu aspecto “logos” (preto no branco) como no aspecto “Rhema” (palavra revelada). “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.


Duas Gerações


Certas citações bíblicas, são cheias de mistérios, e algumas, quando lidas, podem trazer certa confusão em sua interpretação.
É o caso em que o Senhor diz: “Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça” (Mt 24:34). O capítulo 24 de Mateus, destina-se a narrativas concernentes a grande tribulação e conseqüentemente a volta do Senhor.
Como vemos, essas palavras, deixam a nossa mente em suspenso, imaginando, que os personagens aqui descritos, de alguma forma, seriam expectadores do advento de Cristo. Palavra semelhante, nós encontramos em João 21:22 “Respondeu-lhe Jesus: Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa? Quanto a ti, segue-me”. A afirmação do Senhor, certamente foi uma referência a sua aparição, após sua morte e ressurreição, fato esse testemunhado por muitos irmãos. Mas pelo relato do versículo subsequente, fica evidente, que os ouvintes não interpretaram assim: “Então, se tornou corrente entre os irmãos o dito de que aquele discípulo não morreria. Ora, Jesus não dissera que tal discípulo não morreria, mas: Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa?”. Como vemos, a ressurreição do Senhor, ainda era um fato desconhecido aos discípulos, que até mesmo tentaram desestimulá-lo (Mt 16:23). A confusão se estabeleceu, visto que o retorno de Jesus, se daria em tempos ainda muito distante, mas a volta a que se referia, ocorreria após três dias de sua crucificação.
Quanto a palavra: “permaneça até que eu venha”, seria uma clara evidência, de que alguns não sobreviveriam a perseguição que se levantaria contra os seguidores de Jesus paralelamente a sua crucificação. Após a crucificação do Senhor, muitos foram perseguidos e martirizados, razão pela qual os discípulos encontravam-se a portas trancadas, no instante de sua manifestação (Jo 20:19).
Uma outra citação, que pode trazer-nos igual desconforto, sem o devido esclarecimento, encontra-se em Mateus 24:34 “Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça”. Esse versículo que nos é apresentado, dentro do contexto tribulacional, transmite-nos a idéia, de que a geração a que se referia, estava entre os seus espectadores e ouvintes. Aplicando o equivoco de João 21 a Mateus 24:34, João não seria o único representante da era apostólica entre nós, mas teríamos toda uma geração, da era apostólica, aguardando vivos, a vinda do Senhor.
Uma geração é considerada, de um pai para filho, cerca de vinte e cinco anos. Mas o princípio de geração em certos casos bíblicos, rompe com a regra preestabelecida, querendo com isso, nos introduzir numa concepção mais abrangente, segundo a visão espiritual desse assunto.
Na verdade, dentro da realidade espiritual, existem somente duas gerações a ser consideradas, estando elas representadas por duas pessoas distintas: Lameque e Enoque. Lameque, é o sétimo da descendência de Caim (Gn 4:17-18), e Enoque é o sétimo da descendência de Adão (Jd 1:14). As duas descendências assumem a sétima posição na árvore genealógica. Uma vez que as descendências tenham sido associadas ao número sete, elas foram associadas ao tempo. No livro de Daniel capítulo 9:24, encontramos uma referência deveras interessante, para a elucidação do assunto. Na ocasião, em que o anjo Gabriel, veio instruir o profeta Daniel, acerca do cronograma do cumprimento do plano eterno de Deus: “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade  para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos”. Todas as referências desse versículo, estão intimamente ligadas ao estabelecimento do reino milenar.
O cumprimento dessa profecia, começou a partir da autorização emitida pelo rei Medo-Persa, Artaxerxes I, conhecido como Dario (Ed 1:1). A partir de então, os judeus iniciaram a reconstrução dos muros de Jerusalém. Como profetizado em Daniel 9:25, sete semanas (49 anos) seriam necessárias para edificar Jerusalém. Após as sete semanas propriamente dita, mais sessenta e duas semanas seriam contabilizadas, até a crucificação do Senhor Jesus. Quando somamos as sete semanas empregadas a reconstrução de Jerusalém, mais as sessenta e duas semanas que culminaram com a crucificação do nosso Senhor, chegaremos a sessenta e nove semanas, das setenta profetizadas por Daniel 9:24. O que restou, foi apenas uma semana para totalizar a profecia, apenas uma semana.
A última semana de nossa era, será contada, a partir de um tratado de paz envolvendo Israel e os vários países circunvizinhos (Dn 9:27). Uma vez que esse tratado seja assinado, Deus acionará o cronômetro divino, para uma contagem regressiva, de sete anos, a última semana de nossa era, após o que se estabelecerá o reino milenar. Dentro desse contexto, percebemos, que o plano eterno de Deus, começou com a reedificação de Jerusalém, mas terminará, por meio da septuagésima semana, que ocorrerá em virtude de um tratado de paz firmado entre o anticristo e o povo judeu.
Com base nessa exposição, entendemos Mateus 18:21-22, ocasião em que o apóstolo Pedro, pergunta a Jesus, a respeito de quantas vezes, devemos perdoar alguém que tenha pecado contra nós. Embora Pedro tenha externado uma expressiva disposição de perdão (sete vezes), o Senhor rompe com a possibilidade humana: “setenta vezes sete”. Uma vez que setenta semanas de Daniel, nos levarão ao regresso do nosso Senhor Jesus Cristo, ainda que aplicássemos 490 perdões resultantes da multiplicação, não estaríamos em sintonia, com o seu real significado: perdoar até que o Senhor volte.
Esse é o princípio oculto no tema “geração” de Mateus 24:34. São duas gerações, que nasceram em Gênesis, mas se confrontarão em Apocalipse. Esse é o contexto de Judas 1:14 “Quanto a estes foi que também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades”. Esse será o fim de Lameque e sua geração. Esse versículo de Judas, é um ponto final na descendência maligna, pois o Senhor seguido de suas miríades, exterminará uma geração de maldades: “para exercer juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram e acerca de todas as palavras insolentes que ímpios pecadores proferiram contra ele” (Jd 1:15).
Essa era a percepção de Lameque: “Sete vezes se tomará vingança de Caim, de Lameque, porém, setenta vezes sete” (Gn 4:24). Lameque, um homem violento, sétimo descendente de Caim, é o representante oficial de uma geração maligna a quem o Senhor se refere. Quanto a Enoque, o sétimo descendente adâmico, representa aqueles que andam com Deus e por fim serão arrebatados (Gn 5:24).
A bíblia é um relato dos inúmeros confrontos, entre as duas gerações. A geração maligna de Lameque, se opõe a geração de Enoque. O Senhor foi rejeitado pelos descendentes de Lameque: “Mas importa que primeiro ele padeça muitas coisas e seja rejeitado por esta geração” (Lc 17:25). Mas no fim das setenta semanas, contas serão acertadas: “Para que desta geração se peçam contas do sangue dos profetas, derramado desde a fundação do mundo” (Lc 11:50). Embora mais de quatro mil anos tenham se passado desde a fundação do mundo, na ocasião em que Jesus proferira essas palavras, o termo “geração” ainda continua no singular.
Por inúmeras vezes, somos advertidos pelo Senhor, a respeito de nossa fragilidade e vulnerabilidade. Ele nos adverte, a sermos prudentes como a serpente, pois somos como ovelhas no meio de lobos (Mt 10:16). Mesmo que uma ovelha tenha a perspicácia de uma serpente, ela ainda é uma ovelha. Se não permanecer sob os cuidados do pastor, será destruída. Ovelhas são descendentes de Enoque, e lobos são a descendência de Lameque.
Existe um dito popular, que associa a natureza traiçoeira humana, a um “lobo em pele de ovelha”. Esse dito, é a percepção, da existência de lobos camuflados entre o rebanho (At 20:29). A palavra revela também, que essa geração exercita-se na maldade, o que lhes confere uma habilidade superior a dos filhos da luz (Lc 16:8).
O Senhor impressionava-se com a indiferença dos descendentes de Lameque as suas palavras: “Mas a quem hei de comparar esta geração? É semelhante a meninos que, sentados nas praças, gritam aos companheiros: Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e não pranteastes” (Mt 11:16-17). Quanto a geração dos justos, será poderosa na terra, pois ama o Senhor e tem prazer na sua palavra (Sl 11:1-2).
Que o Senhor possa nos tornar irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo (Fp 2:15).